-
Arquitetos: NOARQ
- Área: 265 m²
- Ano: 2019
-
Fotografias:Fernando Guerra | FG+SG
-
Fabricantes: Artemide, AutoDesk, Carpintaria Martins, FLOS, TopMarmi, Trimble
Descrição enviada pela equipe de projeto. A renovação de um apartamento é metade de um exercício de arquitetura. Falta o confronto com o papel vazio. Falta a dimensão urbana. Falta a expressão das grandes opções individuais. Falta-lhe a complexidade, o tempo e a extensão da narrativa completa. Trata-se de reescrever um conto: poucas personagens, um espaço limitado e um breve recorte temporal.
Segundo Eça “No conto tudo precisa ser apontado num risco leve e sóbrio: das figuras (…) apenas a linha flagrante (…) que fixa uma personalidade; dos sentimentos apenas o que caiba num olhar (…); da paisagem somente os longes, numa cor unida”. Enfim, síntese – nada fácil. Recordo a primeira experiência no local, acabado de ser adquirido. O espaço era bem estruturado, de gosto conservador; educado. Restavam alguns móveis gastos de gosto inglês.
Cozinha, quarto da roupa, quarto de empregada e despensa, constituíam a zona serviço. Hall, sanitário, sala de jantar e sala de estar, zona social. Por fim quatro quartos e três quartos de banho resumiam a zona de descanso.
Já ninguém tem empregada interna. Os clientes desformalizaram os hábitos e, com isso, nós flexibilizámos o espaço. Nada restou intacto. Tudo se alterou. Lapidámos o texto, reordenamos os termos, sem retirar conteúdo à zona de dormir, entendida como uma permanência na narrativa. De resto reinventámos toda a ação do tratar, confecionar, comer e estar, buscando a sobriedade de uma linha e a nitidez de uma imagem, da qual Eça não condescendia.
Em volta de um corpo orgânico de madeira de sicómoro que esconde um sanitário, gira um cenário de 180°; de 360° quando se abrem as divisórias que escondem a perspetiva dos cenários dos pequenos-almoços, da cozinha ou da lavandaria como no teatro Olimpico de Vicenza. Um breve conto de 220m² na Foz do Douro.